goTositemap
Cultura

Exposição | Desfoque, de Abel Mota, António Faria e Martinho Costa

01 de agosto, 2025a 31 de agosto, 2025
Lourinhã
image

A exposição coletiva Desfoque reúne obras de três artistas — António Faria, Abel Mota e Martinho Costa — cujo trabalho explora diferentes camadas da perceção e da representação, resultando numa imagem paradoxalmente transparente originada pela sobreposição de três perspetivas singulares. Propõe-se um diálogo entre a paisagem natural, os elementos simples do quotidiano e a mais subtil paisagem interior. Entre o visível e o sugerido, os artistas traduzem a experiência do mundo em pinturas onde figura e fundo se confundem, o detalhe se dilui e a matéria pictórica assume protagonismo.

 

Sobre os artistas:

António Faria

A obra de António Faria desenvolve-se num território onde o desenho, a natureza e a emoção se entrelaçam silenciosamente. As suas paisagens, quase dissolventes, como memórias à beira do esquecimento, capturam o instante fugidio em que a realidade se desfaz — um espaço de neblina e silêncio onde o olhar se instala, hesitante e atento.

Faria privilegia o desenho em papel, em grande formato e em paletas monocromáticas, muitas vezes utilizando carvão para realçar a densidade emocional dos seus temas. A sua atenção recai sobre a natureza (florestas, folhas, flores, ramos e pássaros), elementos que se transformam sob o seu traço preciso, ondulante e melancólico.

Contudo, o seu trabalho representa para além da realidade visível. Nele,  inscreve uma tristeza íntima, uma espécie de recolhimento sensível que emerge no emaranhado de pequenos gestos. Os seus ambientes são imersivos, ora em salas fechadas, ora em instalações multimédia que combinam vídeo, luz e som, aprofundando a experiência sensorial e emocional do espetador.

António Faria convida-nos, assim, a entrar num mundo onde a natureza é tingida de emoção e a melancolia se transforma em forma. A sua obra é uma celebração silenciosa da experiência direta, do detalhe, e do que há de mais íntimo e essencial no mundo natural.

Abel Mota

O seu realismo subtil e intimista traz o quotidiano com uma delicadeza rara. Pormenores emergem: uma cadeira, uma parede e um campo distante. Estavam sempre ali — mas agora, vistos com outro tempo, revelam uma beleza que antes nos escapava.

A sua prática artística é, por natureza, hedonista. O prazer do gesto – largo, espontâneo, virtuoso – e o uso de uma paleta cromática viva ressoam especialmente nos seus trabalhos mais recentes, que podemos classificar como paisagens, muitas delas realizadas en plein air. Esta abordagem celebra o prazer da criação e reflete um modus faciendi marcado pela fruição sensorial.

Mota utiliza a pintura para explorar temas do quotidiano e da natureza, frequentemente incorporando elementos do folclore e da cultura popular, portuguesa, brasileira ou nórdica. A sua obra revela uma sensibilidade bucólica, onde a simplicidade e a ligação ao mundo natural são centrais, mas articula também referências diversas – do cinema do Leste Europeu à sua coleção particular de cerâmica popular e outros objetos – criando um vocabulário visual cada vez mais complexo.

A pintura, para Abel Mota, é também um ativador de uma curiosidade quase inesgotável. Assimila e combina com espontaneidade influências heterogéneas, revelando um olhar atento e sensível às múltiplas camadas da experiência estética e cultural.

Martinho Costa

Nas suas composições contemporâneas de aparência cinematográfica, Martinho Costa questiona o ato de olhar. As suas imagens tornam‑se interrogações visuais: afinal, o que vês quando olhas?

Representa o mundo com uma nuance poética subtil, transformando imagens do quotidiano em composições que atualizam a longa tradição da pintura. Trabalha sobre múltiplos suportes — desde a pintura sobre tela no atelier, passando pela produção de livros únicos pintados, até às intervenções no espaço público — mantendo sempre como ponto de partida imagens prévias, geralmente fotografias feitas pelo próprio com o telemóvel, usadas como uma espécie de caderno de esboços contemporâneo.

A sua prática valoriza o olhar demorado, num tempo em que tudo tende à aceleração e à superficialidade. Explora o banal, o invisível, aquilo que está "tão à frente dos nossos olhos que nem o vemos", como um campo fértil de investigação poética e visual. O seu trabalho propõe, assim, uma contemplação despojada, onde o ato de ver é resgatado como experiência plena, consciente e presente.

Em vez de acrescentar ou manipular as imagens recolhidas, o artista mantém-se fiel à sua pauta inicial, limitando-se, por vezes, a pequenos enquadramentos. Este rigor de fidelidade ao real é acompanhado por uma curiosidade constante sobre o que a pintura pode revelar. Cada obra nasce de uma espécie de desejo puro da pintura — um impulso de começar sempre de novo, movido pela vontade de ver como algo se transforma através do gesto pictórico.

A décalage entre o instante fotográfico e a sua lenta tradução em pintura é essencial ao processo: é nesse intervalo que se instala a magia da revelação. A sua pintura revela, assim, um atlas visual do banal, desprovida de qualquer justificação poética, literária ou simbólica, mas que, precisamente por isso ganham novo relevo e existência através do olhar do pintor.

Num tempo saturado de imagens, a pintura de Martinho Costa resiste como um espaço de pausa, de presença, de reconhecimento do real naquilo que ele tem de mais silencioso.

 

De terça-feira a sábado, das 10h30 às 16h30
Encerra aos feriados

Entrada livre

Última Atualização 28 julho, 2025
Loading...

Partilhar

Partilhar