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Cultura; Empreendedorismo

“O sonho é o de sempre: dar formação e deixar viva a arte”

08 de agosto, 2025
Oeste CIM
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É um projeto de empreendedorismo social, com sede em Alcobaça, na região Oeste. Foi lançado em 2015 e teve como grande objetivo revitalizar a arte da tecelagem em junco. Na recente Feira Internacional de Artesanato, realizada na FIL, a peça ‘Cesta Castanheira – Flor’ recebeu uma menção honrosa, uma alegria partilhada por Eurico Leonardo, líder da Coz’Art, que nesta conversa com a OesteCIM explica como a tradição está a ser passada às novas gerações.

- Qual é a memória mais marcante que guarda do tempo em que aprendeu a tecelagem em junco com a sua mãe?

- A pobreza. O trabalho era desenvolvido em condições muito precárias, sem eletricidade, sem equipamentos para a preparação da matéria-prima, tudo era improvisado e penoso. Realço por outro lado, a paciência e delicadeza da minha mãe para ensinar, apesar das dificuldades com que era permanentemente confrontada.

- O que inspirou o design da peça ‘Cesta Castanheira – Flor’ e o que acredita que a distinguiu das restantes a concurso?

- A cesta Castanheira corresponde a uma ceira clássica, feita desde sempre na nossa terra. Daí o seu nome, pois foi exatamente para homenagear as ceiras mais antigas e emblemáticas que lhe chamamos assim. Esta flor é também um desenho clássico.   A partir destes elementos, quisemos recriar a ceira original, dando-lhe uma qualidade extra, incidindo por isso na forma de preparar o produto, fazer, tecer e finalizar. Todos os momentos da sua execução foram criteriosos e além disso, têm em si um apego e uma nostalgia que reforçam a arte. Os artesãos têm uma ligação emocional às peças.

- Como foi o momento em que soube que tinha sido distinguido com Menção Honrosa?

- Emocionante. Dever cumprido. Orgulho na minha equipa. E um pensamento especial para o passado, que reporta à minha mãe, sem ela eu não estaria envolvido neste processo. Alem disso, há também em mim um reconhecimento ao município, na pessoa do presidente, que tem sido um apoiante incondicional.

- Quantas horas, em média, são necessárias para produzir uma peça como esta?

- Considerando todo o processo, desde a preparação do junco até à colocação da asa e embalagem, 7 horas.

- Qual foi, até hoje, a peça mais especial que já produziu – e porquê?

- A nossa ceira KLAUS. Porque é totalmente inovadora e confirmou as potencialidades desta arte. Mostrou que era possível ‘criar asas’.

- Se pudesse oferecer uma das suas cestas a qualquer pessoa, viva ou já falecida, quem escolheria e por que motivo?

- Eu já ‘ofereci’ uma peça à minha mãe. Porque a homenageei com uma    cesta    a que demos o nome de Angelina. Assim, mantive a sua memória de artesã/artista, dedicada. Hoje, e no mundo dos vivos a minha oferta iria para a minha família. Pois sem o respeito, o apreço, a paciência e a compreensão, eu não teria a oportunidade de estar tão presente e de me dedicar da mesma maneira.

- Como nasceu o projeto Coz’Art e de que forma a ligação à OesteCIM contribuiu para levá-lo mais longe, nomeadamente na participação na FIA?

- O projeto Coz´Art, nasce no Centro de Bem Estar de Coz, num momento em que havia necessidade de usar a criatividade e promover a sustentabilidade da Instituição. Além disso, vivia-se na comunidade a angústia da extinção desta arte, por estarem a desaparecer, fruto da idade, as pessoas que faziam esteira. Considerámos que a sua defesa e divulgação também podiam ser abarcadas pela nossa missão e assim desenhamos um projeto com três eixos – artesanato/ruralidade e turismo – procurando dar respostas a necessidades prementes identificadas em Coz.

Todas as iniciativas de promoção fora do espaço Coz’Art contribuíram de forma essencial para a visibilidade e valorização dos produtos

Assim, participar na FIA, tem vindo a abrir portas, a promover contactos e a concretizar negócios que de outra forma não teriam acontecido. A OesteCIM é para nós um parceiro informal que é essencial, por estar sempre do lado certo, do fazer, do projetar, do apoiar. Enfim, sempre presentes. Devo mesmo reforçar que o profissionalismo, a personalização do acompanhamento e a crença no projeto, por parte da equipa, garantem sempre uma retaguarda e um reforço que me impulsionam e me dão segurança em todas as atividades em que já participei.

- Quais são os maiores desafios para manter viva esta tradição e que sonhos tem para o futuro da Coz’Art?

- Dar continuidade ao princípio de ‘sempre a fazer melhor’. O sonho é o de sempre: dar formação e deixar viva a arte.

- Qual o maior elogio que recebeu relativamente a uma das suas peças?

- “Trabalho magnífico, com peças deslumbrantes, notável coerência estética e profunda fidelidade às origens."

- O que está a ser feito com as gerações mais novas na aprendizagem destas técnicas?

- Contacto com as escolas desde os jardins de infância, passando pelas EB1, secundário e por fim escola de artes (licenciatura e mestrado) Tivemos aliás um trabalho fantástico com os alunos da ESAD e que nos permitiu dar um salto de conceção para novos produtos.

 

 

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Última Atualização 08 agosto, 2025

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