goTositemap
Geral

Assim se desenhou o futuro: tudo sobre a Oeste Summit

14 de março, 2025
Oeste CIM
Oeste Summit terminou com homenagem póstuma ao ex-presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, Carlos Bernardes
Oeste Summit terminou com homenagem póstuma ao ex-presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, Carlos Bernardes

Seis horas, 37 intervenções e muitas ideias gravadas na memória de todos aqueles que acorreram à Oeste Summit ou assistiram à transmissão nas plataformas da CNN Portugal, parceira na organização de um evento que ajudou a projetar a região Oeste para 2050.

Integrada na BTL (Better Tourism Lisbon Travel Market), que decorre na FIL, em Lisboa, até domingo, e com moderação da jornalista Sara Sousa Pinto, a cimeira arrancou com o Painel 1, Governança Inteligente, por Pedro Folgado, aqui na condição de membro do Conselho Diretivo da Associação Nacional de Municípios Portugueses, explicando a própria origem da expressão: “Tem tudo a ver com maior transparência e proximidade com o cidadão.” Segundo o também Presidente da Câmara Municipal de Alenquer e da Comunidade Intermunicipal do Oeste, Portugal está a capacitar-se para ser uma “referência digital mundial no futuro”, mas desde que haja um esforço nacional para que a tecnologia vá ao encontro do cidadão e não se torne “algo demasiado complexo e que afaste as pessoas”.

É precisamente na persecução desse objetivo que se insere o projeto Smart Region, um piloto de grande amplitude que teve o seu berço na Comunidade Intermunicipal do Oeste. “Este foi o nosso papel, enquanto Academia: proporcionar aos decisores políticos os dados que lhes permitem tomar decisões informadas com base em dados”, sublinhou Miguel de Castro Neto, diretor da NOVA IMS, realçando os “prémios internacionais” que o projeto já arrecadou.

“O desafio está nas pessoas, não na tecnologia”, reforçou Manuel Dias. “Temos de sair da bolha de maneira que todos, e não apenas alguns, tirem partido da tecnologia”, disse o diretor executivo da Microsoft Portugal.

Exemplo de como os dados podem ter impacto direto foi anunciado por Paulo Simões, Secretário Executivo da OesteCIM: “Conseguimos saber onde pode estar o insucesso escolar por escola ou agrupamento e aí desenhar uma política pública para resolver o problema.”

Painel 1, Governança Inteligente
Painel 1, Governança Inteligente


De Sociedade Inteligente falou-se a seguir, no Painel 2, e em várias dimensões. Mónica Ferro, diretora da United Nations Population Fund, com sede em Londres, lembrou que este objetivo só é atingível se for feito “de baixo para cima”, ou seja, tendo como ponto focal a base da pirâmide e nunca esquecendo a “equidade” e a “igualdade de género”, tema que lhe é caro.

Ricardo Ramos Pinto, presidente do ISCSP, saudou a grande transformação educacional dos últimos 50 anos, em que a população passou de 25 por cento de analfabetos para 3 por cento, “mas 50 por cento da população adulta tem problemas em compreender um texto”. E a clivagem será ainda maior o que toca à literacia digital. “É fundamental capacitar todas as gerações e as universidades também devem dar resposta aos adultos que já se encontram no mercado de trabalho.”

Um desafio que a ANQEP (Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional) tem vindo a tentar dar resposta. “Mais de 33 mil pessoas têm certificados com base nos cursos por criados por nós”, informou Filipa Jesus, presidente do Conselho Diretivo daquele organismo.

Muitos dos cursos foram dirigidos à Administração Pública, um setor “heterogéneo” que exige respostas específicas. “Já capacitámos mais de 65 mil pessoas”, referiu Miguel Agrouchão, vogal do Conselho Diretivo do Instituto Nacional da Administração (INA).

Pedro Folgado, presidente da Câmara Municipal de Alenquer, deu exemplos do que foi conseguido com a capacitação digital de muitos técnicos: a desmaterialização de processos. “O Presidente da Câmara, hoje, já não precisa de estar na obra, tem é de estar no computador para despachar o que é preciso.”  

Uma alteração de paradigma, como apontou Vítor Marques, presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha: “Além das nossas lojas com história queremos ter lojas com futuro.”

É a fusão da tradição com modernidade que faz do Oeste uma região “diferenciada e unida”. “Puxamos todos para o mesmo lado, independentemente dos partidos. Colocamos os interesses da região acima de tudo”, vincou José Quintino, presidente da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço.

Painel 2, Sociedade Inteligente
Painel 2, Sociedade Inteligente
 

“OESTECIM TEM SIDO VANGUARDISTA”

“Que bonito é assistir a esta unidade de todos os presidentes”, apontou Hélder Reis, Secretário de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional, já no Painel 3 dedicado à Qualidade de Vida Inteligente, a qual não pode ser concretizada sem “equidade”, tendo reforçado a necessidade de “apoiar as empresas pequenas para a utilização de Inteligência Artificial”.

Encontrar estes equilíbrios é uma tarefa complexa, reconheceu Teresa Mourão de Almeida. “E para isso é fundamental que haja liderança, como felizmente acontece no Oeste”, reconheceu a presidente do Conselho Diretivo da CCDR Lisboa e Vale do Tejo.

“A OesteCIM tem sido vanguardista em muitos aspetos, está sempre na linha da frente”, subscreveu Isabel Damasceno, presidente da CCDR Centro, pedindo uma “Administração Central mais regionalizada” para ajudar a eliminar as muitas “disfunções” que ainda se fazem sentir no terreno.

Sempre com a tecnologia como pano de fundo, o vice-presidente da Câmara Municipal da Nazaré, Orlando Rodrigues, deu exemplos do dia a dia que refletem a mudança dos tempos: da internet gratuita à telemetria da água terminando no caso das senhoras que antes andavam nas ruas a anunciar “chambres” e agora “estão em casa com o telefone a apitar, anunciando mais uma reserva”.

O acréscimo de população também se faz sentir na Lourinhã, que registou uma subida de 8% nos últimos dois anos, mas “sem que haja qualquer sentimento de insegurança”, destacou o Presidente da Câmara Municipal, João Carvalho, louvando a utilização dos dados do “cockpit do Presidente” da Smart Region, além da tecnologia para monitorização de estacionamentos, iluminação, praias e zonas de cheia.

“Demos um salto extraordinário de 2017 a esta parte”, recordou Henrique Bertino, presidente da Câmara Municipal de Peniche, congratulando-se com a digitalização dos serviços que permitem dar uma resposta mais rápida às populações, apontando a “vigilância permanente das praias durante os 12 meses do ano” como medida simbólica de evolução.

Todas as decisões visando o bem comum terão se ser analisadas previamente com dados. “Medir antes de agir”, sintetizou Pedro Simões Coelho, professor catedrático da NOVA IMS, recordando o Barómetro de Qualidade realizado no Oeste, cujas respostas deram origem a recomendações geradas automaticamente para a tomada de decisão.

Painel 3, Qualidade de Vida Inteligente
Painel 3, Qualidade de Vida Inteligente

A poucas horas de começar a única etapa europeia do Campeonato do Mundo de Surf, Francisco Spínola, presidente da WSL para a Europa, África e Médio Oriente, tomou a palavra no Painel 4, sob o tema Economia Inteligente, elogiando a qualidade da praia de Supertubos, em Peniche, e as praias do Oeste em geral para a prática do surf. E deu uma novidade tecnológica: “Os surfistas em prova agora recebem alertas no smart watch para saberem, por exemplo, qual a nota que precisam obter para vencer.”

Mas caberia ao Secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, o anúncio: “Teremos o Mundial de surf em Peniche também em 2026. A realização de provas com esta dimensão é um impulso para o turismo, um setor que gera 27,6 mil milhões de euros, o equivalente a um PRR e meio por ano.”

Mas é na concretização de um “turismo sustentável” que residirá o futuro, tal como mencionou Filipe Daniel, Presidente da Câmara Municipal de Óbidos, lembrando os prémios internacionais já recebidos pelo município e destacando também o papel dos agricultores na valorização dos ecossistemas para garantir a biodiversidade.

“Reforço da formação dos recursos humanos é fundamental”, atalhou Jorge Barosa, presidente da Associação Empresarial do Oeste (AIRO), pedindo a criação de “mais incubadoras e aceleradoras” de startups.

Mas coube a Hermínio Rodrigues a definição do que é um oestino: “É um ruralista a viver na cidade face à proximidade a Lisboa.” Manter os valores tradicionais e abraçar a inovação, como expressou o Presidente da Câmara Municipal de Alcobaça, satisfeito por ver “jovens que estão a deixar Lisboa para se instalarem” no município.

Foi a deixa para Jorge Soares, presidente da Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça, historiar o processo de modernização da marca de um produto característico da região, tendo como base o reforço do associativismo. E deixou uma garantia: “Os pomares estão a transformar-se em eco pomares para assegurar a preservação de mais de 20 espécies de seres vivos.”

A outra estrela da região enfrenta problemas maiores. Prestes a completar 200 anos, a pera rocha passa por um processo de regeneração e o recurso à Academia. “Já criámos dois clones para torná-la mais resiliente face aos problemas fitossanitários”, informou Filipe Ribeiro, presidente da Associação de Produtores de Pera Rocha.

A certificação de produtos é outro dos desafios e isso tem sido conseguido no setor dos vinhos. “90 por cento dos processos já são automatizados e os produtores também são informados digitalmente, por exemplo, sobre stocks de produção na sua área”, apontou Francisco Toscano Rico, presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa.

Painel 4, Economia Inteligente
Painel 4, Economia Inteligente

 

“NÃO TEMOS UM PROBLEMA DE ÁGUA”

Iniciando o Painel 5, alusivo ao Ambiente Inteligente, o Secretário de Estado que tutela a respetiva pasta falou sobre os recursos hídricos para mais uma vez dizer que em Portugal “não há falta de água”. “Há, isso sim, um problema de gestão da água”, salientou Emídio Sousa, lamentando as perdas de 40 por cento ao ano, instando os autarcas a autoavaliarem-se não pelo preço mais baixo que proporcionam aos munícipes, mas à menor percentagem de perda de água no concelho.

“A aposta tem de ser na eficiência e resiliência”, salientou José Pimenta Machado, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (AMA), revelando exemplos de como a tecnologia tem ajudado aquela organização: “A utilização de Inteligência Artificial para análise de licenciamentos e o uso de imagens de satélite para descobrir captações de água ilegais.”

Antigo Ministro do Ambiente e agora atuando no setor privado, Duarte Cordeiro elogiou a “política de continuidade” do atual executivo na área que tutelou, mas lembrou que é preciso “planear o consumo de água” no futuro. “Porque vamos ter menos água”, reforçou o sócio da Shiftify.

Medidas que se fundem com a permanente sensibilização, “começando nas crianças”, tal como sugeriu Filipa Moita, marketing manager da Landbell Group a propósito do trabalho feito na área da reciclagem, área em que “Portugal tem feito um trabalho espetacular”.

A educação ambiental é essencial para alcançar a meta desejada. Uma aposta feita “há 20 anos em Torres Vedras” e que agora dá muitos frutos, disse Laura Rodrigues, Presidente da Câmara Municipal. “Fomos dos primeiros no País a criar um plano municipal para o ambiente”, acrescentou, recordando as Agostinhas, as “primeiras bicicletas partilhadas em Portugal”, em 2013.

A utilização de “compositores comunitários” foi um exemplo trazido a debate por Carlos Alves, Presidente da Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos, advertindo que as “tecnologias são estéreis se não servirem as pessoas”.

Mas se há uma riqueza natural no Oeste, refletida no sabor das frutas ou do vinho e nas próprias paisagens, tal se deve “à sua geologia”, afirmou Miguel Reis, coordenador executivo do Geoparque Oeste, um dos seis geoparques no mundo com chancela da UNESCO.

A diversidade deve ser a matriz. “E mercado e sustentabilidade têm de andar juntos, não em separado”, concluiu Paulo Madruga, partner EY Parthenon Portugal, pedindo “sensores com ‘s’ e não com ‘c’. para trabalhar com base em dados e não em perceções”.

Painel 5, Ambiente Inteligente
Painel 5, Ambiente Inteligente

A IMPORTÂNCIA DO PASSE M

“Só 14 por cento da população usa transportes públicos”. O pontapé de saída do Painel 6, dedicado à Mobilidade Inteligente, pertenceu à Secretária de Estado da Mobilidade. “Espero que nos próximos Censos a percentagem suba para 34%”, afirmou Cristina Pinto Dias, elencando algumas medidas tomadas nos últimos 11 meses, desde o passe rodoviário verde à aquisição de navios elétricos, passando pelo apoio adicional aos veículos elétricos em zonas de densidade populacional reduzida.

Luís Cabaço Martins corroborou a estatística, mas defende que a utilização dos transportes públicos só aumenta na proporção da subida da oferta. “A baixa de preço é medida positiva, mas não pode ser só isso”, disse o presidente da Associação Nacional de Transportes de Passageiros (ANTROP), falando da possibilidade de os operadores se tornarem mais flexíveis, numa uberização do transporte público.

Rui Velasco, do Instituto da Mobilidade dos Transportes (IMT), elogiou o Passe M, instituído pela Comunidade Intermunicipal do Oeste em 2025. “Permitiu uma poupança mensal de 140 euros por pessoa”, lembrou, esperando que a médio prazo Portugal tenha “uma rede de dados de transportes, tal como construiu uma rede de autoestradas nos anos 90”.

“É um ganho civilizacional!”, enfatizou Ricardo Fernandes, presidente da Câmara Municipal do Bombarral. “Isto é que é coesão territorial, porque são factos. Poder ir de Alenquer a Alcobaça sem pagar um cêntimo seria impensável há muito pouco tempo”.

“O Passe M não é só um cartão, é uma conquista social. Graças a esta medida muitos jovens puderam ir estudar para a Universidade. Só por causa disto já ganhámos”, afirmou Ricardo Pinteus, presidente da Câmara Municipal do Cadaval, esperando que haja autorização para a aquisição da quota maioritária da Rodoviária do Oeste: “Deixem-nos pelo menos experimentar!”

“Não conseguimos tudo logo de início, então decidimos começar por uma parte. O Passe M só foi possível porque também houve uma visão do poder central”, afirmou Paulo Simões. “870 alunos que antes viviam em Lisboa passaram a viver no Oeste”, prosseguiu o Secretário Executivo da OesteCIM. “Agora iremos avançar com o segundo passo, na procura de uma oferta mais flexível. Se for necessário um carro de cinco lugares para buscar pessoas a uma aldeia, qual é o problema? O facto de uma pessoa sénior poder deslocar-se dentro do Oeste para aceder a cultura de forma gratuita é serviço público!”

O serviço público era o que movia Carlos Bernardes, antigo Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, homenageado a título póstumo por todos os Presidentes, a imagem de força que marcou o encerramento da Oeste Summit, a união de 12 concelhos em prol “dos interesses superiores da região, independentemente dos interesses partidários”, como reiterou Pedro Folgado, Presidente da OesteCIM.

 

Artigos relacionados:
OesteCIM marca a agenda da BTL 2025
Oeste Summit: rumo a 2050

Última Atualização 17 março, 2025

Partilhar

Partilhar